A obra de uma das artistas visuais mais influentes do Brasil está entre as maiores criações de arte contemporânea do Rio Grande do Sul, com escala comparável à intervenção no Muro da Mauá, em Porto Alegre

Casulo, Heloisa Crocco - Foto: Hotel Kempinski Laje de Pedra

 

“Topomorfose”, a pesquisa que estuda o desenvolvimento e crescimento da madeira e suas texturas e marca a trajetória da artista Heloisa Crocco ganha um capítulo hiperbólico: o projeto Casulo que será instalado em Canela, na Serra Gaúcha. 

 

A interferência irá envelopar o tradicional Laje de Pedra, que se prepara para ser o primeiro hotel da rede de luxo Kempinski no Brasil. O projeto será uma das maiores intervenções artísticas contemporâneas do Rio Grande do Sul de escala comparável à intervenção no Muro da Mauá, em Porto Alegre, com 400m de extensão. 

 

O nome é literal e poético ao mesmo tempo. Assim como na natureza, Casulo será um induto até o (re)nascimento: “Por muitos anos a laje de pedra ficou escondida pela construção do hotel. Este foi o ponto de partida da ideia de “encasular” o existente para daqui três anos revelar a transformação. Pensei em um material da região, muito familiar ao meu trabalho e que quando for retirado será reaproveitado”, explica Heloisa.

 

A estrutura é grandiosa: cinco mil barrotes de pinus de reflorestamento sustentável, com 7 metros de altura por 200m de comprimento irão sobrepor painéis com arte da obra de Heloisa Crocco impressa em lona fosca envelopando o edifício existente. Os painéis trazem estampados mais uma aplicação de Topomorfose, a pesquisa icônica da artista e designer. 

 

A instalação começou em 1º de setembro e deve ficar pronta até o final de outubro. Casulo irá envelopar o Laje de Pedra até a obra de retrofit do hotel ser finalizada, em 2024. A madeira que já passou pela transformação do reflorestamento e que teve um papel importante na colonização da região no século XIX, agora irá absorver novas marcas da passagem do tempo, transformando-se conforme o andar dos anos e traduzindo de maneira precisa a pesquisa de décadas de Heloisa. 

 

“A natureza, especialmente a madeira e o reaproveitamento, é o que rege meu trabalho. Existe esta fusão entre as linguagens arquitetura, arte, design e artesanato, isso sempre me interessou. Minha pesquisa é uma extensão da natureza  aplicada a todas estas expressões. A integração entre as linguagens é um desdobramento natural”, define a artista. 

 

O projeto Casulo coloca arquitetura, história, arte, tempo e natureza lado a lado ao imprimir todos esses elementos na madeira, um símbolo material para representar o desejo da rede Kempinski em criar lugares únicos com identidade local. 

 

Conforme descreveu o artista visual, curador e gestor cultural André Venzon, a obra traz novos olhares e possibilita diferentes relações afetivas com o Laje de Pedra. “Na série Topomorfose, Heloisa se dispõe a ir ao cerne das madeiras, tocar a alma das árvores e evidenciar uma estética que expresse as formas eternas. A passagem do tempo, percebida nos anéis das árvores, que funcionam como relógio das estações, é semelhante a uma trama que desenha a duração de nossa realidade. Não há disputa entre arte e arquitetura, há apenas correlação, reciprocidade, mutualidade entre forma e composição. Com isso, repleto de fatos históricos e elementos substanciais, o passado do hotel fica agora envolto por um véu contemporâneo que nunca deixou de estar presente numa natureza sempre dinâmica e inventiva”, explica. 

 

Casulo será o portal de acesso ao Mirante do Laje, espaço de encontro da gastronomia, arte e cultura onde irá operar o recém anunciado restaurante 1835, parceira entre o grupo 20BARRA9 e o Toro Gramado, e, ainda, o Bar do Laje. “Nosso desejo sempre foi marcar a transformação do Laje com uma intervenção artística de grandeza proporcional, o Laje que renasce como arte e cultura”, celebra Márcio Carvalho, um dos sócios da LDP Canela S/A, proprietária do futuro Kempinski Laje de Pedra. 

 

Interação com a comunidade e reaproveitamento

 

Quando o retrofit do hotel estiver pronto, o Casulo irá revelar o renascimento do Laje de Pedra como hotel de luxo da rede Kempinski. O material que ficará exposto durante este tempo envolvendo a estrutura do prédio será reaproveitado em áreas internas do hotel. Para isso, a artista e o empreendimento irão envolver estudantes de escolas públicas e universidades locais para transformar os elementos brutos da natureza em novos objetos artísticos e decorativos para o interior do hotel. 

 

“Reaproveitar, reutilizar é a nova ordem e o que vejo de mais lindo neste caso é que através deste projeto envolveremos a comunidade como em um grande laboratório”, vibra Heloisa que buscou na memória os piqueniques da adolescência no Laje de Pedra e seu tempo de estágio em tapeçaria com a artista alemã Elizabeth Rosenfeld, um dos grandes nomes da elite cultural da região, raízes para desenvolver o projeto.  

 

Casulo é uma criação de Heloisa Crocco e tem projeto arquitetônico e detalhamento de fachada da arquiteta Daniela Jacques, do escritório Divisão de Efêmeros. 

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